quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A abadia de Northanger, Jane Austen

Catherine Morland - uma jovem que não se destaca em beleza ou inteligência, ingênua e de bons princípios - é convidada a passar uma temporada em Bath com seus vizinhos e amigos da família, Sr. e Sra. Allen. Lá, Catherine faz amizade primeiramente com a Srta. Isabella Thorpe e, pouco depois e paralelamente, com a Srta. Elianor Tilney, além de ser cortejada pelos respectivos irmãos de suas novas amigas, Sr. John Thorpe e Sr. Henry Tilney enquanto participa de diversos bailes e outros eventos. De cara Catherine já se vê encantada pelo Sr. Tilney, mas sofre ao tentar driblar seu outro insistente pretendente.
Catherine está lendo “Os Mistérios de Udolpho” de Ann Radcliffe, um romance gótico que não li, mas acredito seguir a mesma linha de “O castelo de Otranto” de H. Walpole (pai do gênero gótico), no estilo de castelos assombrados com crimes misteriosos.
Convidada a conhecer a residência dos Tilney – a abadia de Northanger – Catherine se deixa levar pela imaginação e logo se encontra na vexante situação de estar à procura de mistérios e pistas criminosas, até suas fantasias serem descobertas por seu amado Sr. Henry Tilney e assim finalmente se ver forçada a colocar os “pés no chão”.


Apesar de este livro ser considerado por muitos o mais “fraco” das seis principais obras de Jane Austen, nesta sua primeira obra Jane está afiadíssima em suas sátiras, não deixando de ter em suas entrelinhas muitas críticas; pontos para discussão e reflexão.

Trata-se de uma paródia gótica onde ao mesmo tempo em que a autora defende o romance e critica a postura da sociedade de sua época, tanto dos leitores quanto dos próprios escritores do gênero - como no trecho: “Sim, romances, pois não adotarei este mau e insensato costume, tão comum em escritores de romances, de degradar pelas suas desprezíveis censuras os próprios trabalhos (...), quase nunca permitindo que sejam lidos pela sua própria heroína, a qual, se acidentalmente pegasse um romance, certamente fecharia suas páginas insípidas com desgosto. Ah! Se a heroína de um romance não for protegida pela heroína de outro, de quem ela poderia esperar proteção e consideração?” - faz uma crítica ao romance estilo gótico, que estava em seu auge na época, utilizando sua melhor ferramenta: a sátira; ela mostra através da história de sua heroína a influência do romance em seu leitor, utilizando a imaginação de Catherine – para mim, o conflito vivido pela jovem entre a realidade e a sua imaginação é o ápice da história! - para demonstrar o perigo de não se diferenciar a fantasia de um livro da realidade. Pode parecer absurdo: quem confundiria a fantasia com realidade? A verdade é que não é, e hoje não sofremos só com a influência de um bom romance, mas também da televisão, rádio e muitos outros meios de comunicação; atire a primeira pedra quem nunca esperou por um príncipe encantado alguma vez na vida, por exemplo. Então, eu realmente acredito que não estamos muito longe de uma Catherine Morland e que é SUPER válido o alerta que Jane Austen nos dá para diferenciarmos o romance da vida real. E, ao defender o romance de um modo geral, Jane também critica os que rebaixavam o gênero e ainda os destinavam somente às mulheres que na época eram consideradas inferiores, e durante a leitura tive a sensação de que Jane queria muito demonstrar que um romance “água-com-açúcar” pode ter muito mais em suas entrelinhas.
Resumindo, acredito que Jane Austen não está contra o romance de um modo geral, mas contra ao modismo e ao romance sem finalidade, que rebaixa o gênero e seus leitores.
Outra observação: logo no inicio da leitura a autora retrata Catherine como uma jovem medíocre, sem grandes atrativos, porém faz bastante referência à sua personagem principal como “heroína”. Eu sei, a palavra heroína tem dois significados: “personagem principal de uma obra” e “mulher de extraordinário valor”. Eu acredito que a utilização de tal termo por parte da escritora faz parte de uma de suas ironias quando lemos a descrição que esta faz a sua personagem.
Para finalizar, devo dizer que desde sua primeira obra Jane Austen já demonstra sua aguçada percepção aos caracteres humanos, retratando seus personagens de forma tão condizente com a realidade de sua época que nos permite fazer um paralelo com a sociedade dos tempos atuais.
Incrível pensar que em pouco mais de duzentos anos, pode ter mudado o estilo de roupa – mas a moda continua sendo supervalorizada -, o estilo de dança – porém ainda é utilizada como uma forma de “cortejar” – ou o meio de transporte – todavia este continua sendo objeto de grande valor, especialmente para o sexo masculino. O fato é que o ser humano continua em sua essência o mesmo que há séculos atrás. E isto se pode perceber tranquilamente através da leitura deste livro tão pouco valorizado de Jane Austen.

Entretanto confesso que “A abadia de Northanger” não é o meu favorito de Jane Austen, porém ele possui muitos méritos, apesar de uma fraca história de amor, o livro é bem divertido!

9 comentários:

  1. Estou super atrasada nos livros da Austen não sei como até hoje so li orgulho e preconceito que amei. E agora vou ler razão e sensibilidade para o desafio.
    Achei este tbm ótimo, parabéns pela resenha.

    bjo

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  2. vi o filme/série... mas tenho que ler, complentar essa lacuna.

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  3. Oi, Dani.

    Eu ainda não li a Abadia, mas pretendo ler ainda esse ano. Gostei da forma como você defendeu a ideia do romance e seu significado, pois sem esse fica banalizado.

    Desde que li Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito, percebi que Jane Austen era muito sensível e verdadeira ao montar o perfil de seus personagens. O que parece ser, as vezes, não é... lembro como fiquei chocada quando ela construiu todo o perfil do John Willoughby, para depois desmontá-lo e mostrar sua verdadeira face. Lembro como fiquei decepcionada, pois encarnei todos os sentimentos de Marianne. hehehehe!!!

    * Estava com saudades dos seus posts.

    Bjjjjs!!!

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  4. Oi,adorei sua resenha,principalmente porque fala de uma das minha escritora favoritas,Jane Austen.Até agora,só li Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade,mas quero ler a obra completa dela.Vi todas as adaptações da BBC e também de Abadia,e realmente,é o romance mais fraquinho dela,digo isso em relação aos outros,pois ele não deixa de ter seu brilho também.

    Beijos!

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  5. Adorei o novo visual Dani! Parabéns, já estou te seguindo =)

    Belíssima resenha. Quero muito ler esse livro!

    Beijos
    Lili

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  6. Gostei muito da sua resenha, mas apesar dos livros da J. Austen ser clássicos, eu não consigo ler nenhum livro dela, talvez seja pela escrita, não sei mas sempre acabo dormindo no começo do livro. Talvez se encontrar um livro em português brasileiro, seria mais fácil. Mas realmente fiquei com vontade de ler, talvez procure um ebook.

    O blog é lindo.

    Bjs

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  7. Kynhaa, ser for ler Jane Austen, não aconselho a começar a leitura por este livro. Talvez, devesse tentar começar por "Orgulho e Preconceito" ou "Razão e Sensibilidade". Realmente, a escrita não é fácil - nem mesmo pelo português brasileiro -, na minha opinião. Mas depois a gente acostuma...rs. Eu tenho o ebook de todos os livros dela, se vc quiser eu t envio! Bjinhos.

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  8. Orgulho e Preconceito eu vi filme e gostei bastante, vc poderia me mandar, realmente? Oh, obrigada! :D

    meu email é: talktomyhand@live.com
    não ria, é esse mesmo, ele é engraçadinho. :D

    bjs

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Obrigada pela visita e comentário! =0)